sábado, 17 de julho de 2010

"História" e "Estória"

Por Silvia Vitória

1) O homem insiste em procurar argumentos para mostrar que está correto, mas nunca para efetivamente aprender e assumir que está errado . [2 – e 3, 4, 5... pois isso se repete indefinidamente na história da humanidade]

2) O verbete estória existe nos dicionários, mas sendo considerado, diacronicamente, como antigo, logo, fora de uso, pois verificou-se não apenas que essa diferenciação era desnecessária, como também que ela era ineficaz na nossa língua, visto que ele provocava confusões, comprometendo a comunicação. Ou seja: ele existe no dicionário para que se saiba por que não devemos mais utilizá-lo.

3) Todo estudante de Letras que esteja se preparando para obter habilitação em Língua Portuguesa, e mais ainda os já formados e com habilitação em Língua Portuguesa, sabem que o uso do verbete história é o único válido, a não ser que estejamos citando textos antigos ou nos remetendo a regionalismos.

4) Esse mesmo estudante de Letras é informado (ou deveria ser) a respeito de quais dicionários contemplam melhor as ocorrências dessa língua.

5) Qualquer especialista da nossa língua jamais recomendaria que apenas um dicionário seja suficiente para esclarecer dúvidas quanto a um vocábulo. Logo, independente do Michaelis (citado neste tópico) ser ou não um bom dicionário, como ele não é o único, não pode ser utilizado, assim, sozinho, como parâmetro para dirimir as dúvidas sobre um verbete, seja ele qual for. O que podemos é fazer uso de apenas um dicionário para explicar o que queríamos dizer (o sentido que demos a um verbete num dado contexto). Apenas isso.

6) Um bom dicionário da nossa língua registra, no mínimo, que o verbete estória significa o mesmo que o verbete história, fornecendo, ainda, a informação de que o uso do primeiro verbete é antigo e, portanto, totalmente desnecessário e mesmo ineficaz, visto que já existe uma palavra que contempla esse significado a contento e com precisão – precisão esta que o primeiro verbete mostrou, no seu uso, não ter.

7) Julgo desnecessário citar fontes nesse caso, pois tudo que eu disse pode ser confirmado por qualquer professor de Língua Portuguesa que lecione para professores e pode ser verificado a partir da consulta de mais de um dicionário (eu recomendaria uns cinco, no mínimo, e, mesmo assim, ainda aceitando que o falante de uma língua tem o direito de optar por qualquer um deles, sabendo ou não os riscos que cada opção traria à compreensão de sua mensagem).
Só resolvi intervir nesse assunto porque sou formada em Letras, com habilitação em Português, e, como tal, considero doloroso (sim, pois também sou gente!) ver um falante de uma língua desmerecer o outro em função do seu vocabulário, considerando ainda mais doloroso quando um falante de uma língua tenta desmerecer o outro, tendo, como base, apenas um dicionário.

Dicionários não são armas para serem utilizadas contra os falantes da língua.

Dicionários são ferramentas de trabalho para os falantes de uma língua, cuja finalidade essencial é esclarecer alguns fatos da língua.

A adequação do uso de um verbete é apenas um desses fatos, embora, infelizmente, nem todos os dicionários contemplem esse item.

Por outro lado, há que se considerar a diferença entre fazer uso de uma língua para se comunicar e fazer uso de uma língua para analisar o que foi comunicado. Eu, como professora de Língua Portuguesa, entre outras disciplinas, jamais desmereceria o discurso de alguém por conta de um ou outro verbete mal utilizado ou mal grafado. Apenas mostraria que esses usos poderiam interferir em alguns dos variados processos comunicacionais, explicando o porquê para cada caso apontado. E mais: só faria isso se me fosse solicitado ou se essa situação ocorresse em sala de aula, caso contrário esse assunto seria abordado no decorrer do curso e, de preferência, em aulas específicas.

Mais do que isso, penso que não seja necessário.

E bacana, Soror Helena! Confirmo seu depoimento sem pestanejar: nossa geração teve mesmo essa informação na escola – e já na formação básica, se não me engano.

Finalizando, vale lembrar que nada do que eu disse serve como motivo para queimarmos dicionários. Pelo contrário: dicionários devem sim ser consultados, mas para o fim que eles se destinam – ou, em outras palavras:

Não faça do seu dicionário uma arma. A vítima pode vir a ser você! – e apenas você...
...

PS: peço desculpas pelo longo texto e por possíveis erros de digitação, pois estou sem tempo para elaborar um texto mais enxuto e melhor revisado.

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Contexto / Fonte: Sobre a discussão à respeito do uso das palavras "história" para denotar relato sobre fato real e "estória" para denotar "conto / ficção", abordagem defendida antigamente na formação escolar básica e o correto uso dos dispositivos da língua como ferramentas para facilitar a comunicação, e não como meios de discriminar os falantes da língua. Post publicado em uma comunidade do Orkut, sobre misticismo.

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