quarta-feira, 12 de abril de 2023

Solidão e Liberdade

 “Só podemos ser nós mesmos enquanto estivermos sozinhos; se não amamos a solidão, não amamos a liberdade; pois é somente quando estamos sós que nós somos realmente livres.”

*Arthur Schopenhauer*



quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Morte, de John Donne

Morte, não te orgulhes, embora alguns te provem
Poderosa, temível, pois não és assim.
Pobre morte: não poderás matar-me a mim,
E os que presumes que derrubaste, não morrem.
Se tuas imagens, sono e repouso, nos podem
Dar prazer, quem sabe mais nos darás? Enfim,
Descansar corpos, liberar almas, é ruim?
Por isso, cedo os melhores homens te escolhem.
És escrava do fado, de reis, do suicida;
Com guerras, veneno, doença hás de conviver;
Ópios e mágicas também têm teu poder
De fazer dormir. E te inflas envaidecida?
Após curto sono, acorda eterno o que jaz,
E a morte já não é; morte, tu morrerás.

John Donne

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

About the inevitability of being young

 I'm not young since a long time.

In fact, I didn't feel young even when I saw a few springs...

I planned my adult life still in my teens, but having to live with the young people's lack of sense of responsibility was something I hadn't prepared for. 

Thanks G'd for not having children...

sábado, 12 de junho de 2021

Javé e El: os dois Deuses da Bíblia

 

double_god

O Deus do monoteísmo não é só grande. Ele é dois. 

A prova disso está bem no comecinho da Bíblia.  O Gênesis deixa claro: o primeiro homem do  Bíblia não foi Adão, mas outro sujeito, com outra mulher. Depois de moldar o céu, a terra, as plantas e os animais ao longo da semana, Deus, o Criador, finaliza o Universo na sexta-feira. E deixa dois gerentes a cargo da operação: um homem e uma mulher. Mas não eram Adão nem Eva. Os primeiros humanos da Bíblia são um casal sem nome, sem personalidade. Criado ao mesmo por tempo.

Não é a história clássica, com Adão forjado a partir da terra, e Eva só depois, da costela do marido. E mais importante: o Deus que faz o casal anônimo não é o Deus de Adão. É outro sujeito – ainda que se trate de um Sujeito, com “s” maiúsculo.

O fato é que existem dois deuses com “d” maiúsculo nas páginas do primeiro livro da Bíblia. E cada um cria seu próprio mundo.

O primeiro mundo, do primeiro Deus, é o do comecinho da Bíblia. O Criador ali surge num cenário vazio, pairando sobre um mar negro, no escuro. Mas não por muito tempo.

– Que haja luz – ele diz.

E houve luz.

Foi o primeiro dia da criação (um domingo, se considerarmos que a obra termina seis dias depois, e esse dia é o sábado). Na segunda-feira, vem a parte mais pesada da construção divina. O Criador fatia o mar em duas partes. Uma em cima, outra embaixo. E instala a abóboda celeste no espaço aberto entre as duas massas de água, como se fosse uma redoma de vidro. “A essa divisão Deus pôs o nome de ´céu`”, segue o Gênesis. Depois de deixar metade do oceano primordial lá em cima, amparado pela abóboda, e metade aqui embaixo, com uma novidade chamada “céu” separando uma coisa da outra, Deus encerra os trabalhos do segundo dia. Na manhã do terceiro, quando o mundo ainda é só céu e mar, ele faz brotar terra seca. Então aproveita o espaço recém-inagurado para criar os vegetais. Quarta-feira é dia de instalar o Sol, a Lua e as estrelas na redoma celeste. Exato: na visão do Gênesis, não existe um “espaço sideral”. O mundo, o Universo todo, na verdade, é só uma planície enorme com uma cúpula em cima. Além dessa abóboda, o que existe é aquele mar suspenso. E fim de papo. A própria palavra “firmamento”, que às vezes confundida como uma espécie de de coletivo para estrelas, é só uma tradução para o latim para raqiya, a palavra hebraica que significa “cúpula”, ou “domo”, e que aparece nesse trecho do Gênesis original. Nas Bíblias em Latim, raqiya virou firmamentum, no sentido de “firme” mesmo, já que essa era a palavra romana para “domo de sustentação” – a interpretação mais comum em português, de que “firmamento” vem do fato de que as estrelas parecem “fixas”, “firmes”, no céu, é só um mito liguístico.

Mas vamos voltar para o Gênesis que ainda falta muito mundo para construir. Na quinta-feira, as águas ganham a fauna marinha e o céu recebe as aves. Na sexta é a vez dos animais terrestres.

Semana praticamente encerrada e… nada de humanos. Nós chegamos só no finalzinho mesmo. É quando Deus ordena o surgimento de um homem e de uma mulher, feitos “à imagem e semelhança” dele próprio. E abençoa o casal: “Tenham muitos filhos; espalhem-se por toda a terra e dominem. E tenham poder sobre os peixes, as aves e os animais”. A Bíblia continua: “E Deus viu que tudo o que havia feito era muito bom. Assim terminou a criação do céu, da terra e de tudo o que há neles”.

E pronto. Acabou. Sem Adão, sem Eva, sem Jardim do Éden.

Mas não termina aí, claro. A partir do segundo capítulo do Gênesis, o tempo rebobina. Estamos de novo num vazio. O mundo volta a ser uma folha em branco. O Deus que fez a luz e criou o mundo em sete dias não existe mais. Quem entra no lugar é a outra divindade, com um projeto diferente.

Depois de construir o céu e o chão, esse outro Deus já cria o homem de cara, bem antes de plantar a flora e produzir a fauna. Ele deixa o rapaz solteiro, inclusive, enquanto finaliza o resto do mundo. E só depois decide que não seria mal sua criatura ter uma fêmea como companheira. Aí sim: é a história que todo mundo conhece: Adão, Eva, Éden, Serpente…. O que nem todo mundo sabe é que os dois Deuses envolvidos em cada uma das histórias da criação têm até nomes diferentes.

Para quem lê a Bíblia em português, ou em qualquer outra língua que não seja o hebraico, é impossível perceber. Mas no idioma original está nítido. Ali, o Deus da primeira narrativa da criação se chama “Elohim”. Na segunda história, a que tem Adão e Eva, o nome dele é outro: “Javé”. O texto número um chama Deus de “Elohim” 35 vezes. O seguinte, de “Javé”. Onze vezes. E sem jamais voltar a usar “Elohim”. Em português Só que as traduções da Bíblia não usam os nomes hebraicos. “Elohim” virou “Deus”. E “Javé” foi traduzido como “Senhor”.

E a mudança de nome não é uma alteração cosmética. A maior parte dos pesquisadores bíblicos concorda: cada história foi escrita por um autor. O que indica isso são duas ciências: a arqueologia e a linguística. Na ponto da arqueologia, está claro hoje que os proto-israelitas, os povos que deram origem aos autores da Bíblia, reverenciavam El, o deus supremo da região onde viviam. E “El”, na Bíblia, virou “Elohim”. Engraçado que “Elohim” é o plural de “El”. Porque plural? Não existe uma explicação. O fato é que a evolução das línguas está cheia de exemplos em que o plural se tornou sinônimo do singular – “calça” e “calças”, por exemplo, são duas formas de ser referir ao singular daquilo que veste as nossas pernas (outro caso, mais célebre, é o da palavra “chopps”, que já foi sinônimo de “chopp”, até cair em desuso). “Elohim, em suma, virou sinônimo de “El”.

A linguística também é útil para dissecar a origem do outro deus, Javé. A leitura do texto original da Bíblia, em hebraico, revela quais são os trechos mais antigos. Natural. O livro foi escrito ao longo de 500 anos. Se fosse hoje, seria como se um livro iniciado quando Cabral aportou na Bahia só ganhasse sua versão final hoje. Os trechos compostos há 5 séculos soariam como Camões. Os do século 19, como Machado de Assis (mais provavelmente como Osório Duque Estrada…). Daria para dizer o quã antiga é cada parte do livro. Com  a Bíblia acontece a mesma coisa. E aí que vem o pulo do gato. Os trechos mais antigos ali, feitos por volta de 1.200 a.C., dizem que “Javé” é nome de um deus “que veio de Edom e de Teiman”. Edom ficava onde hoje está o sul da Jordânia. Teiman, mais longe, na atual Arábia Saudita. Diante disso, a conclusão dos especialistas mais citados de hoje, como Israel Finkelstein, da Universidade de Tel Aviv, e Bart Ehrman, da Universidade da Carolina do Norte, é uma só: “Javé” é uma divindade importada pelos proto-israelitas. Algum povo vindo do sul, e que venerava um certo Javé, misturou-se aos ancestrais dos autores da Bíblia. Tudo isso por volta de 1.200 a.C., a transição da Idade do Bronze para a Idade do Ferro, e, como mostra a arquelogia, um período de reviravoltas climáticas que causou secas violentas, fome e, por consequência, gandes migrações humanas. A viagem dos adoradores de Javé até Canaã, onde hoje ficam Israel e Palestina, teria sido uma dessas grandes migrações – outra hipótese é que a história registrada no livro do Êxodo seja uma espécie de romantização desse período histórico de grandes migrações.

Seja como for, o fato é que os editores da Bíblia, os israelitas de 500 a.C., foram respeitosos com os textos antigos que tinham como fonte. Tão respeitosos que El e Javé aparecem no texto com personalidades nem distintas: enquanto Elohim é uma figura onipotente e onipresente, que age dando instruções para o Universo (“Que haja luz!”), Javé é uma divindade mais humana. Ele não fica o tempo todo distante, no céu. É um personagem pé-no-chão, que está mais para um síndico de meia-idade: faz caminhadas pelo Jardim do Eden à tarde, checando se está tudo indo bem no Paraíso (ao cruzar com Adão num desses passeios e ver que ele não está pelado, como deveria, percebe que existe algo de podre no reino da Criação).

O ponto é que El e Javé eram dois deuses tão distintos quanto Ganesh, o elefante hindu da sorte, e Odin, o chefe do panteão escandinavo – são divindades diferentes, cada uma criada por um povo específico. A dupla acabaria fundida numa única figura: justamente aquela que os ocidentais hoje chamam de “Deus”, e os muçulmanos de “Alá”. O nome da divindade única do Islã, vale lembrar,  é outra variação de “El”, mas criada em outro tempo e outro espaço – a Arábia tribal onde, no século 7, nasceria Maomé, o homem que reinterpretou o Deus bíblico a seu modo, tal como Jesus de Nazaré havia feito 600 anos antes.

El, Javé, Alá, Deus… Não importa. Todas essas palavras atestam uma coisa só: deuses são como os homens. Deuses se transformam. Se adaptam. Evoluem, enfim. Junto com seus criadores.

 

Fonte:https://super.abril.com.br/blog/alexandre-versignassi/jave-e-el-os-dois-deuses-da-biblia/

segunda-feira, 7 de junho de 2021

As Sete Maravilhas do Mundo Moderno

 

As Sete Maravilhas do Mundo Moderno (ou Novas Sete Maravilhas do Mundo) representam os monumentos mais importantes da modernidade segundo sua história e arquitetura.

Escolhidos por meio de pesquisa aberta e divulgados no dia 07 de julho de 2007, eles foram apresentados numa cerimônia no Estádio da Luz, em Lisboa, Portugal. Uma das sete maravilhas do mundo moderno está no Brasil: O Cristo Redentor, no Rio de Janeiro.

Coliseu de Roma (Itália)

As Sete Maravilhas do Mundo Moderno

Localizado na capital italiana, Roma, o Coliseu (ou Anfiteatro Flaviano) é o maior anfiteatro do mundo com 45 metros de altura e que abrigava cerca de 50 mil pessoas.

Esse monumento arquitetônico cilíndrico foi construído na Antiguidade (cerca de 70 d.C.) sendo um dos símbolos mais emblemáticos do Império Romano.

O local era utilizado para grandes espetáculos com animais selvagens e nas lutas entre gladiadores. Atualmente, é um dos locais mais visitados da Itália, sendo possível encontrar parte de sua estrutura.

Chichén Itzá (México)

As Sete Maravilhas do Mundo Moderno

Localizada na península de Yucatán, a cidade arqueológica (ou Cidade Templo) foi a capital da civilização maia, fundada aproximadamente em 450 a.C.. Importante centro político e econômico dos maias, ela foi declarada Patrimônio Mundial da Unesco em 1988.

A Chichén Itzá é formada pela pirâmide de Kukulkan (El Castillo), o Templo de Chac Mool, a Praça das Mil Colunas e o Campo de Jogos dos Prisioneiros. Atualmente é um dos locais mais visitados no México.

Machu Picchu (Peru)

As Sete Maravilhas do Mundo Moderno

Construída no século XV, o Machu Picchu está localizado a 2400 metros de altitude, no cume de uma das montanhas da Cordilheira dos Andes, próximo a Cusco, no Peru.

Considerada patrimônio mundial pela Unesco, o Machu Picchu representa o local onde floresceu parte da civilização Inca e por isso, é também chamado de “cidade perdida dos Incas”.

Foi construída majoritariamente em pedra e está bem conservada até os dias atuais, uma vez que os espanhóis quando conquistaram parte da América do Sul, não encontraram o local, que foi redescoberto por um professor estadunidense (Hiram Bingham) em 1911. Atualmente é um dos locais mais visitados do Peru.

Cristo Redentor (Brasil)

As Sete Maravilhas do Mundo Moderno

Localizado no Morro do Corcovado, no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, o monumento de Jesus Cristo é um dos ícones mais importantes do país, sendo um cartão postal da cidade maravilhosa.

Construído de concreto e pedra-sabão, o Cristo Redentor está localizado a 709 metros acima do nível do mar. Foi inaugurado no dia 12 de outubro de 1931 (Dia de Nossa Senhora da Aparecida) e possui 38 metros de altura e 28 metros de largura.

Localizado no Parque Nacional da Tijuca, o Cristo de braços abertos representa um grande símbolo do cristianismo, sendo um dos locais mais visitados do país.

Muralha da China (China)

As Sete Maravilhas do Mundo Moderno

Grande construção em pedra, granito e tijolo, a Muralha da China (ou Grande Muralha) foi construída entre os séculos III a.C. e XVII d.C., e possui cerca de 20 mil quilômetros e 7 metros de altura.

Foi erguida a mando do Imperador Chinês Qin Shihuang e tinha como principal função a proteção militar. Foi construída durante diversas dinastias da China Imperial. Atualmente é uma das maiores atrações turísticas da China.

As Ruínas de Petra (Jordânia)

As Sete Maravilhas do Mundo Moderno

Situada na Jordânia, no Oriente Médio, as ruínas de petra representam um cidade histórica e arqueológica que foi construída cerca de 300 a.C., sendo esculpida nos penhascos de arenito núbio.

As ruínas de Petra estão incluídas na categoria de Patrimônio Mundial da UNESCO, desde 1985. O local representa o que restou da ocupação de diversas civilizações (edomitas, nabateus, árabes, romanos, bizantinos) que floresceram durante a antiguidade. Foi parcialmente destruída por terremotos que ocorreram na região cerca de 550 d.C..

Taj Mahal (Índia)

As Sete Maravilhas do Mundo Moderno

Taj Mahal é uma das construções mais famosas da Índia, eleita patrimônio mundial pela Unesco. Localizado em Agra, o suntuoso mausoléu foi construído em mármore branco em meados do século XVII a mando do imperador Shan Jahan, em homenagem a morte de sua mulher Aryumand Banu Begam que morreu ao dar à luz ao 14° filho.

É considerado uma das maiores provas de amor do mundo e atrai milhões de visitantes todos os anos. Estima-se que foi erguido com a força de 22 mil homens. Além do mármore, o Taj Mahal é composto por diversas pedras preciosas.

Agora que você já conhece as sete maravilhas do mundo moderno, veja também As Sete Maravilhas do Mundo Antigo

Juliana Bezerra
Juliana Bezerra
Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.

 Fonte: As Sete Maravilhas do Mundo Moderno - Toda Matéria (todamateria.com.br)

sexta-feira, 4 de junho de 2021

O que é slasher...

O QUE É SLASHER ?



Existe uma expressão, que nasceu do voleyball, que diz "que o jogador levantou para o outro cortar". Um lance comum no esporte, mas que, como tantas frases, ganhou o mundo para uso mais abrangente. No nosso dia a dia, quando escutamos ela, quer dizer que alguém preparou o terreno para a outra finalizar, marcar o ponto.

No Slasher aconteceu exatamente assim. O levantador foi Mario Bava e quem cortou foi John Carpenter. Já explico...


O Slasher é um subgênero do horror que basicamente, é definido por  um psicopata perseguindo e matando um grupo de pessoas, geralmente usando ferramentas com lâmina. Simples assim. O cinema cria as regras e ele mesmo as destrói. De toda forma, há características bem marcantes na estrutura dos filmes. Costumeiramente, são de baixo orçamento, diretores hora inventivos, hora picaretas (que se dispõem apenas a copiar os antecessores), geralmente com atores medianos,  belas (e nuas) atrizes, roteiro limitado e claro, sangue.

O vilão, por exemplo, em quase 100% dos casos é humano (mesmo com força sobre humana ou habilidades extraordinárias). Explicando melhor, ele não será um Thanos, Predador ou um Alien. Será uma pessoa, mesmo que morra e volte, assassine nos sonhos ou leve 258 mil tiros e não morra. Outra característica comum é a contagem de corpos. Sempre tem uma turminha aleatória que falece aleatoriamente no filme, para dar credibilidade ao vilão.


As origens são óbvias: estão no próprio cinema. Uma parte aqui, outra ali, aos poucos o Slasher foi tomando forma. Filmes como Museu de cera (1953),  Psicose (1960) A Tortura do medo (1960), algumas produções da Hammer (Maníaco, de 1963, Fanatismo Macabro - 1965), os Giallos dos anos 60 são alguns dos exemplos de produções com elementos Slasher. Mas foi com Banho de sangue (1971), dirigido por Mario Bava que o Slasher tomou forma. Para quem não lembra, há cenas idênticas em Sexta-feira 13 - Parte 2. Mario Bava plantou a ideia, mas quem regou foi John Carpenter, em 1978, com Halloween. Na trama, Michael Myers (Tony Moran) é um psicopata que vive em uma instituição há 15 anos, desde quando matou sua própria irmã. Porém, ele consegue fugir de seu cativeiro e retorna à sua cidade natal para continuar seus crimes na localidade que, aterrorizada, ainda se lembra dele.


Halloween - A Noite do Terror foi rodado em 21 dias com um custo de apenas 325 mil dólares. Rendeu 70 milhões. Desta forma, nascia verdadeiramente o Slasher, que no coração do oitentistas, marcou época com nomes como Jason Voorhees, Freddy Krugger, Michael Meyers e muitos outros que faziam a "alegria" da garotada sempre ávida em ver corpos nus e/ou despedaçados.

O significado da palavra vem de "golpear" que remete ao ato cometido pelo serial killer. Há algumas características comuns. Os assassinos normalmente são deformados e/ou usam máscaras. Tem um passado conturbado, geralmente com problemas familiares. Eles costumeiramente matam a esmo, sem um número ou pessoa específica. Uma das cenas mais comuns em filmes do tipo é a de uma pessoa (normalmente mulher) correndo no mato, tropeçando 666 vezes enquanto o assassino anda, num passo pouco apressado, atrás da futura vítima. Jason em Sexta feira 13 (Parte 2 em diante) praticou isto a exaustão.


Os filmes também costumam ter muitas continuações, elevando consideravelmente a contagem de corpos. E não incomum, o serial killer é morto em cada filme, para então reviver milagrosamente no filme seguinte.  Como podemos ver, os conceitos de horror se confundem e se misturam. Um filme "B", pode ser Trash. Um Slasher pode ser Gore....

Muitos elementos do subgênero podem ser vistos também em O massacre da serra elétrica (1974). Baseado no assassino, que infelizmente habitou nosso mundo, Ed Gein, conta a história de um grupo de jovens que, durante uma viagem de carro, acabam caindo no caminho de uma família de pessoas insanas, cujo filho utiliza uma serra elétrica para matar as pessoas, tratando-as como carne animal. Ele usava uma  máscara feita de pele humana. Tobe Hooper  foi o responsável por nos apresentar o personagem, que voltaria em várias continuações, remakes, reinvenções, reimaginações, enfim, trilhando o caminho dos seriais dos filmes slasher.


O auge foi até meados dos anos 80, com inúmeros filmes famosos produzidos na época. A onda foi tão forte, quase um "slasher sploitation", que o subgênero desgastou. Os filmes passaram a serem muito iguais, com uma ou outra "invenção de roteirista" para dar um "ar" de ineditismo, como no caso de Sexta feira 13 - Parte 7, onde Jason enfrenta uma paranormal (e cadeirante ainda por cima) ou em Halloween 3, filme em que a história nada tem a ver com as sequências. No filme,  o dono de uma companhia que fabrica máscaras de Halloween planeja matar milhões de crianças americanas com algo sinistro escondido nas máscaras de Halloween.

E como era de se esperar, veio a queda. Mas antes de terminar, um nome merece uma menção à parte: Wes Craven. O diretor  pontuou os slasher em vários momentos. Foi dele um dos mais marcantes personagens da história deste cinema: a hora do pesadelo.


Curiosamente, ele fez Shocker: 100 Mil volts de terror, filme feito na época que o subgênero caminhava para o fundo do poço. Horace Pinker (Mitch Pileggi) era para ser o novo Freddy Krugger, mas não funcionou como o esperado. Ou seja, Craven fez parte do início e do fim.

Em 1994, com "O novo pesadelo: o retorno de Freddy Krueger" Craven fez o que ninguém esperava: revigorar os slashers com um filme antológico, que está bem no topo dos melhores da série. O filme mostrou Freddy atacando os atores dos filmes passados. Uma sacada genial, mostrando como o cinema é uma obra que transcende, que se reinventa e recomeça.

Dois anos depois Craven arrebentou o lacre dos slashers para a nova geração com Pânico, filme que não só apresentava um icônico personagem que marcou o subgênero como fez uma obra bem sacada, que satiriza o horror e de certa forma, evolui.



Com o filme, veio um novo enxame. Eu sei o que vocês fizeram no verão passado, Lenda urbana, Medo em Cherry Falls, Dia do terror e muitos outros, além das óbvias continuações. Deram as caras também novas versões de filmes antigos como Halloween e Chucky. Seguiram remakes e até crossovers (que sempre representou um ponto negativo em franquias de terror/ficção).

Craven, porém caiu em todas as armadilhas que o subgênero criou, realizando mais três continuações, que se não foram fracas, foram desnecessárias. Pânico 4 (o menos importante de longe) encerrou a quadrilogia de forma esquecível e findou a carreira deste mestre do gênero, que se por um lado marcou seu início duas vezes, esteve no sepultamento também por duas vezes.

Atualmente, com a onda do "pós-horror", que significa algo como horror com inteligência, os slashers andam meio adormecidos. Mas não se engane, são como vampiros. Uma hora destas, acordam para um novo ataque.

 

 

Fonte: https://www.tudosobreseufilme.com.br/2019/10/o-que-e-slasher.html