terça-feira, 3 de abril de 2007

Menino Bobo

Eu quis, mas de novo não pude elevar meu coração
acima do problema cotidiano de não ser mais eu mesmo.
Às vezes, as luzes noturnas da cidade ainda me sorriem, e
me enebriam com aquela sensação boa de estar em casa;
como queria voltar a sentir o perfume da “Dama da noite”,
e esquecer que tudo o mais existe.

Uma brisa leve, e já não sinto mais as mãos;
elas dançam no ar, acaraciando a vida que vaga a esmo.
Tudo se torna mágico, e uma sombra passa por mim:
sou eu de novo, num gostoso farfalhar de risos e abrir de asas;
num retorno à um tempo longíqüo, que apesar do egoísmo
ainda hoje a memória resiste, eu te revejo meu velho amigo, EU MESMO.

E nesse cenário maravilhoso, ainda te vejo sorrir maroto,
meu próprio reflexo preso no constante passar dos anos.
Sonhador e irreverente, irresponsável e apaixonante;
Caminha entre os vivos, como se não fosse causar espanto
e mostra, de um jeito inocente e brincalhão, que não é você o fantasma:
sou eu a sombra que vaga pelos seus sonhos,
eu sou o espectro sem vida que te abandonou pra brincar de gente grande.

Mas agora a brincadeira não tem mais graça...
ninguém está rindo, e nem ninguém irá chorar quando eu me for...
é você a quem todos adoram e desejam por perto,
não eu, coração de deserto onde nem o vento ousa se aventurar
senão pra contar de você, meu velho reflexo menino no tempo...
é de você que todos sentem falta,
foram os seus sonhos que semearam minhas mais belas amizades,
meu único tesouro, de quem não quero abdicar no fim...


Por vezes tento trazê-lo de volta à tona, garoto puro de olhar incerto;
mas acho que esquecemos o caminho...
eu, por me preoculpar demais com o que não tem importância,
e você, por nunca se importar...

Se é sozinho que devo seguir, por que me assombra?
Se é contigo que deve ser, por que não volta?
Se é você quem deve permanecer, por que me deixou abandoná-lo?

Você me dizia do que podia, mas não queria...
eu te conto agora do que quero, mas não posso sem você...

Eu te procurei hoje, enquanto olhava para cidade à noite,
pela janela;
Vi tantas luzes que me perdi nos seus antigos sonhos,
e comparando com o que sou agora,
vejo que a estrada não era aquela.

Jamais quis te deixar pelo caminho, só não percebi
que não podia me acompanhar;
Me preoculpei tanto com o que me era oferecido,
que esqueci de considerar o que queríamos,
não te deixei partir porque não te amava,
só não via futuro no que dividíamos,
e agora que estou partido em dois, te espero pra me completar,
porque não há presente palpável na mentira que vivo.

Quando nos reencontrarmos, entenderei se não me perdoar,
mas que vida teríamos nós: eu sem alma, você sem ação?...
Já não se trata do que eu quero, do que você sonha,
mas do que nós somos.

Me ajude a re-descubrir quem somos, e sejamos de novo um só.
Se tudo isto é só um sonho, então por favor me acorde,
ou me deixe de novo, contigo, sonhar.

“Vida, ainda que maldita, mas que seja vida!..” você cantava;
Hoje eu sou o que resta de teu sussurro.
Céus, como pude ser tão burro e te enterrar tão fundo,
que agora não pode mais me escutar!!!!!!!


Sombras, perdidas no escuro, pintadas num muro, formando o teu rosto...”
Lembra?...
De todos a quem já pude magoar nessa vida, você foi o único que no fundo,
jamais mereceu meu desprezo, pois que se não podia te amar,
à ninguém mais poderia verdadeiramente...

Eu não queria te deixar pra trás,
por isso vim aqui pra te encontrar,
e dizer:

“Eu te quis aqui, mais perto...
mas não queria te aprisionar...
eu só queria ser livre, jamais solitário...”

“Caminho numa floresta, à procura da luz;
encontrei a morte, em seus olhos azuis...
...e envolto num denso nevoeiro,
nesta floresta escura, hoje,
desejei ter tua alma, mas seu corpo era tão frio”

“Vi sua imagem a caminhar sobre o lago”

Desculpe senão lembro todas de cór,
talvez você possa me ensinar de novo...
volta menino bobo.
Sinto sua falta.
Me perdoa, eu não queria te abandonar.
No fundo, eu nunca quis te magoar...

“Vim, vi e perdi, a última chance ... de me salvar...
lá lá lá lá, lá lá...”


carvaggian - 26 de junho de 2005

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