domingo, 1 de abril de 2007

Das Três Tranformações do Espírito

"Três transformações do espiríto vos menciono: como o espírito se muda em camelo, e o camelo em leão, e o leão, finalmente, em criança. Há muitas coisas pesadas para o espírito, para o espírito forte e sólido, respeitável. a força deste espírito está clamando por coisas pesadas, e das mais pesadas. Há o quer que seja pesado? - pergunta o espírito sólido. E ajoelha-se igual camelo e quer que o carreguem bem. Que há mais pesado, heróis - pergunta espírito sólido - para eu o ditar sobre mim, para que minha força se recreie? Não será rebaixarmo-nos para o nosso orgulho padecer? Deixar brilhar a nossa loucura para zombarmos da nossa sabedoria? Ou será separarmo-nos da nossa causa quando ela festeja a sua vitória? escalar altos montes para tentar o que nos tenta? Ou será sustentarmo-noscomo bolotas e erva do conhecimento e sofrer fome na alma por causa da verdade? Ou será estar enfermoe despedir a consoladores e travar amizade com surdos que nunca ouvem o que queremos? Ou será nos afundar em água suja quando é a água da verdade,e não afastarmos de nós as frias rãs e os quentes sapos? Ou será amar os que nos desprezam e estender a mão ao fantasma quando nos quer assustar? o espírito sólido sobrecarrega-se de todas estas coisas pesadíssimas; e à semelhança do camelo que corre carregado pelo deserto, assim ele corre pelo seu deserto. No deserto mais solitário, porém, se efetua a segunda transformação: o espírito torna-se leão; quer conquistar a liberdade e ser senhor no seu próprio deserto. Procura então o seu último senhor, quer ser seu inimigo e de seus dias; quer lutar pela vitória com o grande dragão. Qual é o grande dragão a que o espírito já não quer chamar Deus, nem senhor? "Tu deves", assim se chama o grande dragão; mas o espírito do leão diz: "Eu quero". O "tu deves" estápostado no seu caminho, como animal escamoso de áureo fulgor; e em cada uma das escamas brilha em douradas letras: "Tu deves!" Valores milenários cintilam nessas escamas, e o mais poderoso de todos os dragões fala assim: "Em mim brilha o valor de todas as coisas". "Todos os valores foram já criados, e eu sou todos o svalors criados. Para o futuro não deve existir o "eu quero!" Assim falou o dragão. Meus irmãos, que falta faz o leão no espírito? Não será suficiente a besta de carga que abdica e venera? Criar valores novos é coisa que o leão ainda não pode; mas criar uma liberdade para a nova criação, isso pode-o o poder do leão. Para criar a liberdade e um santo NÃO, mesmo perante o dever; para isso, meus irmãos, é preciso o leão. Conquistar o direito de criar novos valores é mais terrível apropriação aos olhos de um espírito sólido e respeitoso. Para ele isto é uma verdadeira rapina e próprio de um animal rapace. Como o mais santo, amou em seu tempo o "tu deves" e agora tem de ver a ilusão e arbitrariedade até no mais santo, a fim de conquistar a liberdade à custa do seu amor. É preciso um leão para esse feito... Dizei-me, porém, irmãos: que poderá a criança fazer que não haja podido fazer o leão? Para que será preciso que o altivo leão se mude em criança? A criança é a inocência, eo esquecimento, um novo começar, um brinquedo, uma roda que gira sobre si, um movimento, uma santa afirmação. Sim; para o jogo da criação, meu irmãos, é necessário uma santa afirmação: o espírito quer agora a sua vontade, o que perdeu o mundo quer alcançar o seu mundo. Três transformações do espírito vosmencionei: como o espírirto se transformava em camlo, e o camelo em leão, e o leão, finalmente, em criança". Assim falou Zaratustra. E nesse tempo residia na cidade que se chama "Vaca Malhada".

"Assim Falou Zaratustra"
Autor: Friedrich Nietzsche

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