sexta-feira, 4 de junho de 2021

O que é slasher...

O QUE É SLASHER ?



Existe uma expressão, que nasceu do voleyball, que diz "que o jogador levantou para o outro cortar". Um lance comum no esporte, mas que, como tantas frases, ganhou o mundo para uso mais abrangente. No nosso dia a dia, quando escutamos ela, quer dizer que alguém preparou o terreno para a outra finalizar, marcar o ponto.

No Slasher aconteceu exatamente assim. O levantador foi Mario Bava e quem cortou foi John Carpenter. Já explico...


O Slasher é um subgênero do horror que basicamente, é definido por  um psicopata perseguindo e matando um grupo de pessoas, geralmente usando ferramentas com lâmina. Simples assim. O cinema cria as regras e ele mesmo as destrói. De toda forma, há características bem marcantes na estrutura dos filmes. Costumeiramente, são de baixo orçamento, diretores hora inventivos, hora picaretas (que se dispõem apenas a copiar os antecessores), geralmente com atores medianos,  belas (e nuas) atrizes, roteiro limitado e claro, sangue.

O vilão, por exemplo, em quase 100% dos casos é humano (mesmo com força sobre humana ou habilidades extraordinárias). Explicando melhor, ele não será um Thanos, Predador ou um Alien. Será uma pessoa, mesmo que morra e volte, assassine nos sonhos ou leve 258 mil tiros e não morra. Outra característica comum é a contagem de corpos. Sempre tem uma turminha aleatória que falece aleatoriamente no filme, para dar credibilidade ao vilão.


As origens são óbvias: estão no próprio cinema. Uma parte aqui, outra ali, aos poucos o Slasher foi tomando forma. Filmes como Museu de cera (1953),  Psicose (1960) A Tortura do medo (1960), algumas produções da Hammer (Maníaco, de 1963, Fanatismo Macabro - 1965), os Giallos dos anos 60 são alguns dos exemplos de produções com elementos Slasher. Mas foi com Banho de sangue (1971), dirigido por Mario Bava que o Slasher tomou forma. Para quem não lembra, há cenas idênticas em Sexta-feira 13 - Parte 2. Mario Bava plantou a ideia, mas quem regou foi John Carpenter, em 1978, com Halloween. Na trama, Michael Myers (Tony Moran) é um psicopata que vive em uma instituição há 15 anos, desde quando matou sua própria irmã. Porém, ele consegue fugir de seu cativeiro e retorna à sua cidade natal para continuar seus crimes na localidade que, aterrorizada, ainda se lembra dele.


Halloween - A Noite do Terror foi rodado em 21 dias com um custo de apenas 325 mil dólares. Rendeu 70 milhões. Desta forma, nascia verdadeiramente o Slasher, que no coração do oitentistas, marcou época com nomes como Jason Voorhees, Freddy Krugger, Michael Meyers e muitos outros que faziam a "alegria" da garotada sempre ávida em ver corpos nus e/ou despedaçados.

O significado da palavra vem de "golpear" que remete ao ato cometido pelo serial killer. Há algumas características comuns. Os assassinos normalmente são deformados e/ou usam máscaras. Tem um passado conturbado, geralmente com problemas familiares. Eles costumeiramente matam a esmo, sem um número ou pessoa específica. Uma das cenas mais comuns em filmes do tipo é a de uma pessoa (normalmente mulher) correndo no mato, tropeçando 666 vezes enquanto o assassino anda, num passo pouco apressado, atrás da futura vítima. Jason em Sexta feira 13 (Parte 2 em diante) praticou isto a exaustão.


Os filmes também costumam ter muitas continuações, elevando consideravelmente a contagem de corpos. E não incomum, o serial killer é morto em cada filme, para então reviver milagrosamente no filme seguinte.  Como podemos ver, os conceitos de horror se confundem e se misturam. Um filme "B", pode ser Trash. Um Slasher pode ser Gore....

Muitos elementos do subgênero podem ser vistos também em O massacre da serra elétrica (1974). Baseado no assassino, que infelizmente habitou nosso mundo, Ed Gein, conta a história de um grupo de jovens que, durante uma viagem de carro, acabam caindo no caminho de uma família de pessoas insanas, cujo filho utiliza uma serra elétrica para matar as pessoas, tratando-as como carne animal. Ele usava uma  máscara feita de pele humana. Tobe Hooper  foi o responsável por nos apresentar o personagem, que voltaria em várias continuações, remakes, reinvenções, reimaginações, enfim, trilhando o caminho dos seriais dos filmes slasher.


O auge foi até meados dos anos 80, com inúmeros filmes famosos produzidos na época. A onda foi tão forte, quase um "slasher sploitation", que o subgênero desgastou. Os filmes passaram a serem muito iguais, com uma ou outra "invenção de roteirista" para dar um "ar" de ineditismo, como no caso de Sexta feira 13 - Parte 7, onde Jason enfrenta uma paranormal (e cadeirante ainda por cima) ou em Halloween 3, filme em que a história nada tem a ver com as sequências. No filme,  o dono de uma companhia que fabrica máscaras de Halloween planeja matar milhões de crianças americanas com algo sinistro escondido nas máscaras de Halloween.

E como era de se esperar, veio a queda. Mas antes de terminar, um nome merece uma menção à parte: Wes Craven. O diretor  pontuou os slasher em vários momentos. Foi dele um dos mais marcantes personagens da história deste cinema: a hora do pesadelo.


Curiosamente, ele fez Shocker: 100 Mil volts de terror, filme feito na época que o subgênero caminhava para o fundo do poço. Horace Pinker (Mitch Pileggi) era para ser o novo Freddy Krugger, mas não funcionou como o esperado. Ou seja, Craven fez parte do início e do fim.

Em 1994, com "O novo pesadelo: o retorno de Freddy Krueger" Craven fez o que ninguém esperava: revigorar os slashers com um filme antológico, que está bem no topo dos melhores da série. O filme mostrou Freddy atacando os atores dos filmes passados. Uma sacada genial, mostrando como o cinema é uma obra que transcende, que se reinventa e recomeça.

Dois anos depois Craven arrebentou o lacre dos slashers para a nova geração com Pânico, filme que não só apresentava um icônico personagem que marcou o subgênero como fez uma obra bem sacada, que satiriza o horror e de certa forma, evolui.



Com o filme, veio um novo enxame. Eu sei o que vocês fizeram no verão passado, Lenda urbana, Medo em Cherry Falls, Dia do terror e muitos outros, além das óbvias continuações. Deram as caras também novas versões de filmes antigos como Halloween e Chucky. Seguiram remakes e até crossovers (que sempre representou um ponto negativo em franquias de terror/ficção).

Craven, porém caiu em todas as armadilhas que o subgênero criou, realizando mais três continuações, que se não foram fracas, foram desnecessárias. Pânico 4 (o menos importante de longe) encerrou a quadrilogia de forma esquecível e findou a carreira deste mestre do gênero, que se por um lado marcou seu início duas vezes, esteve no sepultamento também por duas vezes.

Atualmente, com a onda do "pós-horror", que significa algo como horror com inteligência, os slashers andam meio adormecidos. Mas não se engane, são como vampiros. Uma hora destas, acordam para um novo ataque.

 

 

Fonte: https://www.tudosobreseufilme.com.br/2019/10/o-que-e-slasher.html

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