segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O Retorno de Axel Rose

Se o mundo dependesse de Axl Rose para que a China virasse uma democracia, estaríamos todos perdidos. Depois de 14 anos e milhões e milhões de dólares foi lançado em novembro o novo álbum do Guns N’Roses, que hoje em dia conta apenas com o próprio Axl e o tecladista Dizzy Reed da formação clássica.


Álbum mais esperado desde o século passado, “Chinese Democracy” provocou controvérsia não apenas por estes problemas de lançamento, gravações e regravações, mas também questionamentos políticos. O governo chinês baniu o disco do país porque a faixa título tem uma referência ao Falun Gong, uma seita combatida pelos governantes locais.


Coisa de quem está devendo. Se o disco fosse realmente revolucionário, espetacular e fosse tocar no mundo inteiro, eu, se fizesse parte da ditadura chinesa, talvez ficasse preocupado. Acontece que “Chinese Democracy” é um CD bem mais ou menos que só ganhou alguma notoriedade por dois motivos: É o novo álbum do Guns e levou 14 anos para ser lançado. Ponto. Nada mais.


Musicalmente, ele não acrescenta muito à carreira da banda, que não lançava um disco novo desde o desmantelamento após o “The Spaghetti Incident?” (1993), e não lançava um disco decente desde a dupla “Use Your Illusion I” e “Use Your Illusion II”, ambos lançados em 1991.


Em 14 faixas, Axl Rose, que contou com nada menos do que 12 colaboradores – mais do que o Titãs jamais pensou em ter e quase uma orquestra –, não diz a que veio. Em algumas delas, até é possível lembrar vagamente algo do que o Guns fez de melhor, como em “Street of Dreams”, com sua entradinha a la “November Rain” ou “There was a time”, que tem um solo de guitarra de Robin Finck bem ao estilo da banda.


Guitarrista do Nine Inch Nails, uma das declaradas influências, aliás, de Axl no disco, Finck é o que há de melhor entre os colaboradores do cantor e nos premia com outro ótimo solo em “This I Love”, uma balada, que é outra tentativa válida, embora infrutífera, de criar uma nova “November Rain”.


Além do guitarrista, participaram do disco Ron “Bumblefoot Thal (guitarra), Buckethead (guitarra), Paul Tobias (guitarra), Richard Fortus (guitarra), Tommy Stinson (baixo), Chris Pitmann (baixo), Bryan “Brain” Mantia (bateria), Frank Ferrer (bateria), Dizzy Red (teclados) e Josh Freeze (bateria).


Com tantos músicos diferentes, só de guitarrista são cinco, mais do que o Iron Maiden jamais pensou em ter, o disco parece mais uma colagem do que um álbum coeso. Com isso, apenas algumas faixas pontuais acabam se salvando. Além das três já citadas, destacaria ainda “I.R.S.” e “Madagascar”, ambas tocadas durante o Rock in Rio de 2001 que me causou uma boa impressão. “Madagascar”, então, é que fica mais perto de lembrar o velho Guns.


E só. A faixa título, que tanto incomodou o governo chinês, é confusa. Aliás, em diversos momentos do disco a voz de Axl parece escondida. Ouve-se melhor os instrumentos do que o cantor. Além disso, o disco é um tanto quanto “sujo” em determinados momentos.


Em “Shackler’s Revenge” ele solta a voz pela primeira vez e em alguns momentos me faz pensar que está tentando de criar uma nova “Welcome to the jungle”, música clássica do disco igualmente clássico “Appetite for Destruction” (1987), mas ele não consegue nem de longe repetir aquele clima.


“Better”, sua primeira tentativa de balada no álbum é um fracasso enquanto “Catcher in the rye” dá nova vida ao disco, apesar de um incômodo e esquisito “lalala”. “If the world” chega a ser constrangedora, enquanto “Scraped”, “Riad N’Bedouins” e “Sorry” são dispensáveis. O álbum termina com “Prostitute”, um hard rock meia-boca que mais parece feito por estas bandinhas de quinta que temos hoje em dia.


Enfim, no cômputo geral, “Chinese Democracy” é um disco que serve apenas para os fãs do Guns que sentiam saudades da banda, de Axl soltando seus gritos ou tocando piano. Eu iria mais além. Diria que é um disco para fãs colecionadores.

Por Marcelo Alves - 05/jan/2009



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